terça-feira, 4 de março de 2014

Latas Vivas, lá tá vi-va...


... estou descendo com Mel. Falei em um tom mais ou menos alto, pois tinha criança na casa querendo dormir. Com um simples assovio, Mel, uma cão adolescente da raça Goldem Retrivier cola ao meu lado, com o seu ar de felicidade, rabo " a lá limpador de para-brisas". Ainda catando a chave que se encontrava no chaveiro colado a parede, percebo que Mel quer realmente sair, pensei, deve está apertada ou será que cão gosta mesmo de rua?
Geralmente eu desço pela escada, pois já tinha sido advertido pela síndica que estava proibido cachorro no elevador, relutei aos princípios da corte e resolvi ir de elevador. Estava mesmo a fim de quebrar algumas regras... um rebelde ancião sem causa. Celular ao bolso, chaves, livro e um espelho. Sempre que me olho no espelho tenho essa dúvida, é eu que olho para o espelho ou é o espelho que me olha? A pequena nave avisa que o destino final tinha chegado. Abro a porta atento para que Mel não surpreenda nenhum morador, principalmente a síndica e vou adiante.
A noite estava um pouco fria, tinha acabado de chover, a grama onde geralmente levo a minha cão para fazer suas necessidades ainda permanecia muito molhada, algumas poças de água com formigas de dentes boiando, era hilário...Ainda atento a tudo e a todos, o local não era muito seguro aquela hora da noite, esperei a peluda terminar logo voltei ao edifício.
A chuva voltava dar o ar da graça, um garoa bem paulistana , nossa,  aquele tipo de chuvisco minha mãe me falava quando eu era criança que era batata para ter febre. Aquilo ficou colado em minha mente até hoje.
Me preparando para correr, percebo lá no início da rua um carro de madeira com um grande volume de material, parecia muito com os carros de reciclagem, mas fiquei na dúvida a rua estava um pouco escura e a chuva não ajudava na visibilidade. Era pra correr, mas ao ver aquilo diminuir os passos e andei, enquanto isso a cheia de pelo já me esperava no portão. Abrir lentamente a fechadura, existia um nome cravado bem no local do ferrolho, um nome sem muita importância naquele momento, mas de grande importância quando você precisa comprar para se proteger. Mais atento do que nunca, tento permanecer com as vistas naquele quase pobre rapaz que vem de lá de baixo. Não podia esperar o pior acontecer, se realmente iria acontecer, como diz meu avô, " ... quem espera tempo ruim é jegue".
Entrei e ainda focado naquela cena, aguardo receptivo sentado em uma das cadeiras de madeira que se encontrava no playground. A mesa também era de madeira, e como toda mesa de play de madeira, lindas frases ajudavam na sua decoração. eu amo nando, minha pica em vc, viado,etc...
A brisa estava boa, a chuva enfeitava a noite, a luz do poste tentava fazer a sua parte, os mosquitos de gladiavam se com voos rasantes, esquivando o tempo todo dos mais fortes. Era uma noite bucólica e como toda noite muito misteriosa. Tenho impressão que, quando Deus fez a noite ele pensou o seguinte, já que minha mãe não deixa eu fazer tudo o que eu tenho vontade, vou fazer algumas coisas escondido, daí veio a noite...
Sucinto e muito delicado, chega o carro de reciclagem, era mesmo o carro de reciclagem... Guiado por um rapaz, que aparentava ter uns 40 anos, rosto com pouca barba, calçado com botas de couro, uma bermuda escura e uma camisa de botão semi aberta. O seu carro era mesmo de madeira, na parte da frente uma frase, feliz carnaval 2014 em tinta branca. Uma caligrafia bem resolvida, e bem melhor que muito médico que existe por aí. Ele se aproximou do portão, manobrou o seu carro e foi direto aos latões de lixo que se encontrava do lado, rebuscou o máximo que podia, se eu não me engano um score de pelo menos 3 latinhas. Saudei com breve boa noite, de imediato respondeu mas sem muita importância... Boa noite pra quê, pensei !
Continuei me perguntando, terça de carnaval, chuva, lixo e mosquitos um rapaz de aparência tranquila enfiado dentro de uma lata de lixo a busca de elementos reciclados.