domingo, 15 de fevereiro de 2015


... alô Lobato, tudo bem meu velho.Cara, quero um texto seu,pode ser ? Perguntei ao meu novo amigo que tinha acabado de conhecer no Cruce, uma figura hilária,divertida e muito experiente nesse seguimento.
- Meu bom baiano, eu tento, vou te mandar algo, caso você goste fique a vontade.
E como eu virei fã desse cabra paulista, segue seu belo texto...

Uma história no EL CRUCE COLUMBIA

100km cruzando 2014 x 2015

era primavera de passagem,
2013 o cenário,
um louco teve miragem,
e amigos convidou...

6 na balada de loucos,
dizia que era pra poucos,
e a notícia desabou...
vamos correr 100 kilometros,
fiquem calmo, são 3 dias...                

camping e água fria,
mochila d’água no espaldar,
não precisa saber nadar,
rio raso pra atravessar...

era 2013,
vambora gastar borracha,
sola de tenis queimar,
vamu pegar altas trilhas,
volume acumular...

seis tão loucos,
é novembro!,
não vai dar pra preparar,
mas já que é diversão,
vambora, 5, 10 15, 20, 25, 30km, vamu rodar...
roda, roda, vira ano,
2014 chegando,
um tal de cruce aproxima,
fevereiro, vamu pra cima,
a tal maratona fechar...

voou pássaro de aço,
chileno nos recebeu,
e a chuva caiu do céu,
vamu credenciar,
um tal de kit pegar...

5 de amanhã a largada,
essa trilha é pirada,
o frio ta de arrepiar,
falta-me adiposo,
o frio pegando o osso...

na escura gritaria,
acordo na manhã fria,
de busão para o portal,
e quando soa o apito,
como de guerra, sai grito,
pé após pé vou trotar...

lá vem o parceiro John,
pergunto se ta por perto,
que a trilha vai apertar,
depois de subir o gigante,
chuva, vento e frio nas venta,
beiço e língua não agüentam,
começam a congelar,
já nem sei  gritar meu nome,
nem sei se o John vem na cola,
do cumbre vamos baixar...

no desespero da baixada,
um patada trás doutra,
um som me fez desconcentrar,
parceiro John lá no chão,
com sua rodilha a sangrar...

bandagem na engrenagem,
fazer rodilhar rodar,
seguimos no caminhar,
a esta altura, 25,
17k pra acabar...

sinto uma fisgada,
um tal de iliotibial,
e agora somos dois,
cada um manca de uma banda,
e no portal, cruzamos lado a lado...

já era 2014,
sé é dupla, ficamos juntos,
2ª etapa perdida,
vamus dormir pra terceira,
medalha símbolica buscar,
concluído 22K,
ferro, couro e algodão no pescoço,
incompleta premiação...

esse El Cruce insano,
fez alma se incomodar,
ainda volto outro ano,
pra montanha dominar,
daqui parti com dívida,
2014 acabou,
2015 vai chegar...

vai,
 verão,
vem outono,
cores e outros tons,
inverno cinzento,
e eu não perco tempo,
vamu treinar,
trilha florida,
sinais de vida,
flores a desabrochar, bom sinal
vida que se renova,
a trilha prova e aprova,
sigo dias a contar...

2015, bom dia!
lembranças daquele dia,
que a montanha me desafiou,
um ano já se passou,
agora sigo mais pronto,
novo cruce vai chegando,
e sigo eu meditando,
pra estratégia realizar...

se aproxima argentina,
abraço de Bob,
Bahiano na esteira,
todos apreensivos,
querem saber,  encontrar,
dados e informações,
pra nessa trilha, trilhar...

chegada, credenciamento,
kit, “fotografamento”,
eu to contando os dias,
as pernas querem articular...

larga, 1, corre 25,
pedra sobe, terra desce,
o músculo enrijece,
o espírito se apetece,
a alma se alimenta, no desabrochar de cada paisagem,
é chegado o portal,
me recebe tal e tal,
gosto de primeira vitória,
o trecho já é história...

larga 2, corre 43,
rio raso, rio frio,
calor da montanha, bosque, ilhas, belas trilhas,
isla del corazon, aquece o coração,
bora descer nessa marcha,
que o relógio se adianta,
é hora de sacolejar,
bosque, montanha,
arroyos y riveras, águas pra refrescar,
eu eu pisei na armadilha,
boi que cagou na trilha...

larga 3, corre 33,

manhã de ansiedade,
nem tanto pela idade,
nem pela dificuldade,
é só porque está pra acabar...

glaciar dá um bom dia,
a trilha memoriza passadas,
e em cada passo marcado,
um quebra-cabeça montado,
flores da patagônia,
sons de pássaros raros,
alimentam essa jornada,
e impulsiona para a chegada,
cruzam tonhos e chicos, gringas e marias,
passo a passo, alcançando,
tá todo mundo buscando,
o tal brilho no portal...


são 3 os últimos tais K´s,
e no portal da chegada,
endireita a mirada,
pro fotografo captar,
lagrimas e suor,
escorrem pra lavar alma...
o espírito em paz,
a alma calma,
o corpo faz desabar,
grito de triunfo...

e agora no pescoço,
couro, ferro e algodão,
reconhecem sua vitória,
e no meio da natureza,
registra sua história...

a montanha se enclina,
cumprimenta com sua beleza,
fé, perseverança e destreza,
que permitiu, junto com outros muitos,
fevereiro, 2015,
êxito alcançar...

#ElCruceColumbia
#Verão #2015

@al_de_mar, o Lobato

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


Um Baiano Alado na Terra dos Andes

Chegada em Bariloche- Cordilheira dos Andes
Toc-toc, peço permissão para me apresentar
Eu me chamo, Quinhones nome difícil de falar.
Ousado como todo matuto que é
Poderia me chamar Maradona, e quem sabe Fernandes
Mas isso pouco importa, a minha prosa começa no Andes.
A cachorra já estava toda pronta...
Foi só a moça do balcão me orientar o portão
Pra chegar até lá só podia ir de avião.
Nunca gostei desse troço, asa-dura
Gosto de tá com o pé na terra
De tanto voar, me bate muita gastura...

Parte II - Largada
Ô moço precisava fazer tanto frio aquela manhã
Usava calça,camisa,bone,meia, só não uso " sutian"
Mas veja menino, que diabo mesmo estava fazendo alí
Um povo estranho, de linguajar que nunca vi
Tinha gente de tudo que era canto
Lituano, japonês,americano e Alagoinhas
Tinha cabra da Colombia, Equador e de Serrinha
A chamada era por bloco,tipo 6 em 6
Na minha numeração era o 2 grupo da vez.
Na minha cabeça nada se passava
Eu só queria chegar pra o último não ficar
Tinha que honrar a minha camisa
Tinha que honra o meu país
Tinha que honrar muita gente que me fazia feliz.
Êta porra seu menino, tenho que subir esse morro todo
A batata doia, a perna se retava
O pulmão ardia e o coração agradecia
Zorra, esse morra não acaba
Tanta gente é essa que não desiste
Tenho que honrar meu nome
Se não papai fica triste.
Vai cabra da peste, vai colocar a farinha pra virar energia
Esse tal de gel, o gatorade  é coisa chic
Pensei no feijão,na rabada e no carneiro
Que minha irmã tinha preparado pra mim
E disse que eu seria o primeiro...

Parte III- Fim da 1° etapa
Seu menino, o treino que tinha feito no mês passado
Estava realmente fazendo efeito
Agradecia ao meu treinador, um maestro perfeito.
Mas que diabo é isso que nunca acaba
Quanto mais eu corro, e não chega a nada
Olha lá, no alto da montanha via a casinha azul
Tipo smurf, e o lugar A lagoa Azul
Pronto, estou chegando...
Mas que nada seu moço, foi uma ilusão de ótica
Tinha que rodar mais 8 km, ou melhor 8 léguas
Para chegar no tal acampamento
Sobe e desce dos diabo, a coxa ardia
O pé chorava, mas a vontade ninguém superava
Morro adentro, morro afora, cheguei home-de-deus
Agora só chora,chora,chora...

Parte IV - Acampamento 
Era muita informação, pegava a mochila em um canto
Comia em outro, dormia em outro, e cagava em outro
Mas que nada, tinha mesmo era que me virar
Sabe como é, baiano nasceu para brilhar
Fiz intimidade com a rapaz da refeição
Preparava meu rango sem me hesitar 
Sabia que o hermano não ia me decepcionar
Era um tal de  um churrasco o dia inteiro
Tinha frutas da região, música e falação
Tinha até pastas, mas na minha cidade conheço como macarrão
Um molho disso,outo daquilo
Escolhia sempre o vermelho, prato sem cor é coisa de grilo
Naquele momento era o momento pra se apresentar
Conhecer as ticas os ticos e prosear
O network estava feito, era agora esperar
Gringo é um bicho muito estranho
Mas estranho mesmo, era o povo do seu país que até alí levantava o nariz
Mas veja seu menino, um arrombado desse com a gasolina no talo
Tira onda de bacana, e ainda canta de galo.
Mas vamos em frente pq atrás vem muita,muita ,muita gente

Parte V - Dormida
Ô frio retado, e a noite que não chega
Dá 9 da noite e o sol insiste em ficar
Se fosse na minha cidade, a lua se retava
Entrando na tenda imagine só, 
Um cabra argentino dormindo comigo
Mas veja se isso cai na boca de um amigo meu
Se fu-deu....
O filho de seu Beroaldo dormindo nos Andes
Com um argentino, que nem sei o nome
O é Maradona ou é Fernnades
Mas o sacaninha era gente boa
Roncava pouco e não pertubava
Falava o suficiente pra me deixar a vontade
O frio parou alí e resolveu acampar
Tome roupa,calça,gorro,agasalho pra ele espantar
Vai embora seu frio, que eu quero pestanear
Que nada, 4 horinhas de sono era suficiente
Pra minha bateria carregar...

Parte VI - Chegada
Avisava o mulher da voz estranha que o Chile era logo alí
Puxei o passaporte nos mato pois tinha também que fazer xixi
Mas não podia parar, e o pior que veio também a vontade de cagar
A dúvida era essa, se cagava na Argentina ou no Chile
Seria legal, cagar na Argentina tinha um ar de soberania
Os cabras são tão tirado que ali seria a minha vingança 
Mas nada apareceu, queria muito era chegar
A vontade foi embora e o portão de chegada avistar
Não tenho como expor o que sentia naquele momento
Uma coisa eu tenho certeza, virar Tarzan era uma nobreza
Bater no peito bem forte e dizer, 
Eu consegui, tenho certeza
Obrigado meu Padim Padre Cisso
Obrigado meu Cosme e Damião
Obrigado meu Deus 
Obrigado Irmão