terça-feira, 26 de agosto de 2008

A menina do ponto

Uma menina sentada na beira da calçada esperava a chegada da sua condução. Fardada com um belo laço azul na cabeça, uma sandália de dedo nos pés, uma mochila que parecia ter no mínimo uns 50 quilos, e um relógio tatuado no pulso feito a caneta de ponta grossa.
Era incrível como ela se comportava, sozinha à mais de 3 horas no ponto de ônibus, lia um livro de mais ou menos 300 folhas. Ela interagia com cada página lida. Era de admirar suas caras e bocas. Ria, chorava, xingava e chegava ao ponto de se agredir, com vários tapas na coxa.
Passa gente de um lado para o outro e sempre atento aos gestos da pequenina. O curioso que, esse tempo todo no ponto ninguém parava para esperar também. Acredito que ali seria um ponto desativado.
Já por volta das 17h23min, ela olha para o seu relógio à caneta, lança o seu livro na mochila e parti, deixando muitas expectativas nos admiradores. Ficou em dúvida se ia para direita ou esquerda, optou pela esquerda e saiu sem rumo, ou com, não sei direito.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lambida de cão cicatriza ferida.

... de quem é esse transporte de pulga, esse vira-lata, essa merda cotó? Eu não agüento mais, toda vez que passo por aqui correndo, vem esse filho da puta e corre atrás de mim. E dessa vez ele conseguiu, mordeu bem no meio da minha canela. Eu vou matar essa peste – retrucou indignado o rapaz desconhecido, com uma das pernas em sangue vivo.
Meio acanhado e morrendo de raiva do cachorro, o dono que era um borracheiro, grita com o bichinho, com um tom de voz que era inconfundível para um homem que estava em apuros. Pediu desculpas ao moço e se identificou como o titular do cão.
O rapaz com uma cara de dor passava a mão perto do local da mordida e pedia que o dono tomasse uma providência. Sem falar muito, o borracheiro arquivava em sua mente, a milésima vez que “Djou”, assim como o cão era chamado, mordeu alguém.
O quase atleta pediu gelo, o rapaz não tinha, pediu pomada, também não tinha. Pediu, pediu e pediu, ele não tinha nada, somente pneu velho, chaves de boca e um macaco. Além disso, tinha também a arcada dentária de Djou, assinada na canela de mais uma vítima.
Desesperado, o rapaz da mordida pergunta se o dog era vacinado. E o dono respondeu que não sabia, parecia que não, mas, não tinha certeza.
- Esse bicho é velho que só o diabo- disse o mecânico.
- Sim, e você não sabe se ele é vacinado ou não - cara de dor.
- Rapaz para lhe dizer a verdade, eu achei esse cão no Largo das Tripas, ali perto da rodoviária . É só isso que eu sei.
- Você que é dono, não sabe, só falta agora você me dizer que ele é de raça!
- Não faço à mínima – em um tom bem baixo.
- Porra é foda, ser mordido por um cachorro vira-lata, velho e capenga em pleno meio dia... Tomar no cú viu.
Nessa de um falar uma coisa e o outro só pela metade, o sangue na perna do valentão já estava seco. Criando uma casquinha dura enramada com os cabelos do local.
Depois de 2 horas de pura negociação, passo pelo local do acontecido. E lá na borracharia, os dois embriagados abraçados falando de cães e gatos.
E o mais interessante, “Djou” ou “Penga” o cão cotó, lambia intensamente a ferida que tinha causado na perna do cidadão. Ferida lambida por qualquer cão, cicatriza mais rápido, conselho de amigo, disse o trabalhador.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Meu lado Asimoviano

Poucos são aqueles que conseguem lembrar com o que sonhou. Quando resolvem contar, contam pela metade, " ...sei lá, uma loucura só, um monte gente que não conhecia, em um local que nem sei onde era direito...". Isso é ser Asimov

Perto dos mouros em ordem indiana
As pequenas espécies ativavam as vertigens
Devoravam os defuntos expostos ao sol
E abriam os seus corpos à navalhas


Pobre dos Deuses, que surtavam em frações
A carniça era dada as pequenas espécies
Mas os rinocerontes eram implacáveis
Bicho de força, bicho de aço

O baque era muito grande
As raças entrelaçavam as suas forças
E os fortes permaneciam ativos
E os fracos, cada vez mais oprimidos

As víceras a olho nu
As vítimas mutiladas
As mães choravam em tons líricos
A perda da pequena cria

Pobre de ti, filhos de Judas
Sairás a pé no chão fervendo
Feliz de ti filhos de Jacó
Sairás voando a plenitude eterna.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Meu espelho é meu amigo, pelo menos eu acho...

Suando frio e agoniado para chegar logo em casa. Estava nas últimas, precisava de um banheiro com urgência. Não sei se foi o acarajé que me fez mal, ou se foi o hot dog de Lula - um mestre em fazer cachorro quente de rua.Meu Deus, por que será que quanto mais vou chegando perto de casa, mais a vontade vai aumentando?! Entrei a mil, abri a porta em frações de segundo, passei pela cozinha, cortei a sala e entrei com muita vontade no banheiro. Bati a porta, soando um som agressivo pelos quatro cantos da casa. Desafivelei a calça, onde encontrei muita dificuldade para baixar, pois usava um short como cueca, e esse short era de cordão no qual tinha dado um nó. Droga! Puxei com uma força tão grande que o cordão partiu em dois.Sentei no trono como o último imperador da China, mas não agüentava de dor, era insuportável, doía muito, uma cólica “dos infernos”. Pensava em tudo, no acarajé, no hot dog, na pipoca, na lasanha e até na água que tinha tomado no bebedouro público da escola central. Depois de alguns minutos a situação foi amenizando e a minha cara de choro foi voltando ao normal.Estiquei o braço para pegar uma revista, pois não existe lugar melhor no mundo para ler uma notícia que não seja no banheiro. A revista falava de dietas e um monte de asneira feminina para ficar bonita.Depois de tanto esforço, muita bravura e muita leitura, me senti mais aliviado. Aos poucos fui voltando ao normal, e tirei conclusões absurdas da cólica no ser humano.Flagrei-me perante o espelho, ainda viajando, e percebi que não estava sozinho e que tinha outra pessoa do outro lado. Era o outro eu que brincava com caretas e conversas bobas. Pois é meu amigo, estou ficando velho com direito a cabelo branco e tudo mais. Sem falar no corpo e nas pequenas rugas que estão aparecendo. O papo continuou, era incrível como a conversa fluía naturalmente. Falamos sobre beleza, velhice, esporte e conquistas femininas. O espelho era um grande parceiro, pelo menos ouvia tudo e o máximo que fazia era repetir o que era pronunciado.Ô meu banheiro, ô meu espelho, existe alguém mais bonito que eu...?!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dedos finos

Já não agüentava mais. O sono era um verdadeiro herói. Nunca consegui vencer o dito cujo, toda vez que tentei desafiá-lo tomei nocaute. Mas aquele dia estava demais, foi entrar no ônibus, passar pela roleta, pagar o cobrador, sentar no banco e apagar profundamente.Não sei se realmente estava sonhando ou foi mesmo confusão. Uma senhora que aproximava ter seus 50 anos, usando saia rosa, lenço na cabeça, camisa verde e na companhia de duas crianças, aparentemente gêmeas, correu para porta da frente para passar seus dois moleques e logo voltou para a de trás para passar pela roleta. Não entendi de imediato, até porque pela idade que aparentava podia usurpar o motorista e entrar gratuitamente.Ao passar pela catraca, gritou para os dois meninos para que sentassem, pois podiam cair. Os garotos, elétricos, não deram muita importância e continuaram salientes nos bancos da frente. Só pararam quando o motorista chamou atenção, mas riram entre si como se nada tivesse acontecido.A senhora ainda com dificuldade para passar, pois o seu peso estava elevadíssimo, pediu ajuda ao cobrador que logo rodou roleta ajudando-a. Voltou a gritar mais uma vez. E dessa vez não foi mais com os moleques e sim com o cobrador, pois exigia os seus 12 centavos de troco.- Toda vez que eu pego esse ônibus é a mesma coisa, nunca tem troco. Pois dessa vez vai ser diferente, ninguém passa por aqui. Só quando ele me der meu troco - disse a senhora- Mas senhora, eu vou dar seu troco. Só peço que a senhora contribua e vá sentar, pois está atrapalhando a passagem do resto do pessoal - retrucou o cobrador.-Não, não e não. Ô Cosme e Damião, fiquem quietos, vocês podem cair peste – gritou mais uma vez a senhora.O clima já estava mais pra lá do que pra cá, até que um filho de Deus se propôs a pagar o troco da senhora que então desentupiu a garganta do ônibus.A minha cabeça pesava 500 quilos, e piorou quando a Senhora Centavo sentou ao meu lado, recolheu os dois moleques de lá da frente e colocou os dois no colo. Na verdade um sentava mais em meu colo que no dela. Sem falar que ela sozinha já ocupava as duas cadeiras.Os meninos pareciam que tinham tomado alguma coisa, os moleques não paravam. E quanto mais a senhora gritava com os dois, eles pirraçavam.Ao chegar ao ponto desejado pela mulher, ela levantou bruscamente jogando os meninos no meu colo para puxar a cordinha. Um quase bateu a cabeça no meu joelho, mas tudo era motivo de brincadeira. Pegou os meninos pelo pulso e os levou. Um deles ao olhar para trás, me viu dando risada. Não deu outra, elevou o seu dedo maior da mão e gesticulou um pênis para mim. Dei mais risada, e logo em seguida ganhei além do dedo fino do moleque um belo resmungo da Senhora Centavo.