quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dedos finos

Já não agüentava mais. O sono era um verdadeiro herói. Nunca consegui vencer o dito cujo, toda vez que tentei desafiá-lo tomei nocaute. Mas aquele dia estava demais, foi entrar no ônibus, passar pela roleta, pagar o cobrador, sentar no banco e apagar profundamente.Não sei se realmente estava sonhando ou foi mesmo confusão. Uma senhora que aproximava ter seus 50 anos, usando saia rosa, lenço na cabeça, camisa verde e na companhia de duas crianças, aparentemente gêmeas, correu para porta da frente para passar seus dois moleques e logo voltou para a de trás para passar pela roleta. Não entendi de imediato, até porque pela idade que aparentava podia usurpar o motorista e entrar gratuitamente.Ao passar pela catraca, gritou para os dois meninos para que sentassem, pois podiam cair. Os garotos, elétricos, não deram muita importância e continuaram salientes nos bancos da frente. Só pararam quando o motorista chamou atenção, mas riram entre si como se nada tivesse acontecido.A senhora ainda com dificuldade para passar, pois o seu peso estava elevadíssimo, pediu ajuda ao cobrador que logo rodou roleta ajudando-a. Voltou a gritar mais uma vez. E dessa vez não foi mais com os moleques e sim com o cobrador, pois exigia os seus 12 centavos de troco.- Toda vez que eu pego esse ônibus é a mesma coisa, nunca tem troco. Pois dessa vez vai ser diferente, ninguém passa por aqui. Só quando ele me der meu troco - disse a senhora- Mas senhora, eu vou dar seu troco. Só peço que a senhora contribua e vá sentar, pois está atrapalhando a passagem do resto do pessoal - retrucou o cobrador.-Não, não e não. Ô Cosme e Damião, fiquem quietos, vocês podem cair peste – gritou mais uma vez a senhora.O clima já estava mais pra lá do que pra cá, até que um filho de Deus se propôs a pagar o troco da senhora que então desentupiu a garganta do ônibus.A minha cabeça pesava 500 quilos, e piorou quando a Senhora Centavo sentou ao meu lado, recolheu os dois moleques de lá da frente e colocou os dois no colo. Na verdade um sentava mais em meu colo que no dela. Sem falar que ela sozinha já ocupava as duas cadeiras.Os meninos pareciam que tinham tomado alguma coisa, os moleques não paravam. E quanto mais a senhora gritava com os dois, eles pirraçavam.Ao chegar ao ponto desejado pela mulher, ela levantou bruscamente jogando os meninos no meu colo para puxar a cordinha. Um quase bateu a cabeça no meu joelho, mas tudo era motivo de brincadeira. Pegou os meninos pelo pulso e os levou. Um deles ao olhar para trás, me viu dando risada. Não deu outra, elevou o seu dedo maior da mão e gesticulou um pênis para mim. Dei mais risada, e logo em seguida ganhei além do dedo fino do moleque um belo resmungo da Senhora Centavo.

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